Pokémon TCG Pocket, um exemplo de como explorar as micro-comunidades

Pokémon TCG Pocket é o mais novo jogo da The Pokémon Company, a divisão da Nintendo responsável pela produção e gerenciamento dos jogos da franquia Pokémon. A nova obra traz o combate de cartas do clássico jogo de cartas para o mundo virtual. Apresentando uma uma mecânica um tanto defasada, o objetivo se torna claro: colecionar cartas.

A obra propõe um card game casual, onde as batalhas são rápidas e um número baixo delas é necessário para a devida progressão no jogo e seus eventos. O objetivo principal é colecionar as diferentes cartas de Pokémon, para isso é preciso abrir os famosos boosters, ou pacotes. É através deles que as cartas são obtidas, obviamente que para abrir os pacotes é preciso de algum recurso, e essa mecânica foi elaborada para deixar o jogo o mais casual possível.

A cada 12 horas os jogadores podem abrir um booster de cartas para tentar completar sua coleção. Este tempo de espera pode ser diminuído com Ampulhetas, que são obtidas através das missões diárias. As missões diárias são fáceis o suficiente para serem completadas em alguns minutos, a parte mais complexa é jogar/vencer certos número de combates no modo pvp, só que como as partidas são curtas, o tempo dedicado diariamente para manter-se atualizado na missão de colecionar não é demasiado. A progressão se dá exatamente desta forma, um farm diário e prolongado ao longo das semanas, meses e anos, o ponto não é jogar muito mas jogar sempre.

O combate definitivamente não é o ponto forte do jogo, já que o ponto chave de controle da jogabilidade de todo card game é deixado à deriva nesta obra: o RNG. RNG, ou aleatoriedade para aqueles que não estão acostumados com o termo, é o ponto chave de um jogo de cartas, afinal ele é intrínseco ao modelo. A aleatoriedade já existe em um card game com a mão inicial e a cada rodada quando uma nova carta é comprada, o problema é que os outros elementos que geram aleatoriedade precisam ser controlados para que a habilidade dos jogadores não seja sobrepujada pela sorte. Pokemon TCG Pocket não se importa com isso, diversas mecânicas de cartas e tantos outros elementos são demasiadamente aleatórios, como a mecânica da cara/coroa das moedas. O deck de Articuno com Misty é uma prova de como RNG consegue decidir um jogo por pura sorte. A The Pokémon Company tem ciência que a mecânica de combate de seu jogo é a pior possível, mas isso não importa para eles, porque o objetivo não é o combate, é colecionar. O combate é tão curto que caso o jogador perca, não faz diferença, afinal foi uma partida de 3 a 5 minutos que ele acabou de jogar. Dado o modelo nada equilibrado de combate, fica claro que o modelo digital deste card game não terá campeonatos relevantes como é o original, o físico.

O futuro do jogo? O pensamento aqui é simples: continuar alimentando o jogo continuamente, para aqueles que já completaram sua coleção terem mais o que colecionar. Para resolver isso, novas atualizações com novas levas de cartas colecionáveis são necessárias recorrentemente, afinal os jogadores que pagam o premium e compram Ampulheta com dinheiro real conseguem rapidamente completar sua coleção. Além disso, o jogo é recheado de eventos sazonais que permite o farm de determinada carta. Pokemon TCG Pocket sobrevive através do FOMO(Fear of Missing Out), o medo de perder as novidades por tempo limitado. Os jogadores se prendem ao jogo com o objetivo de colecionar, com isso o login diário e a corrida para completar as missões diárias se tornam uma rotina.

Concluindo, Pokémon TCG Pocket aposta em algo que parte do público dos card games sempre gostaram mas que nunca tinha sido um objetivo de nenhum jogo em específico: colecionar. Ao longo do tempo houve jogadores de vários jogos de cartas, como Hearthstone, Gwent, Legends of Runeterra e outros, que desejam algo além de competir pelos ranks, colecionar as cartas do jogo. O anseio pessoal desses jogadores parecia quase como doentio por parte da comunidade competitiva destes jogos. Pokémon TCG Pocket virou o olhar para este público e criou um ambiente para eles chamarem de seu, assim nasceu um lugar onde a paixão de colecionar cartas, seja a mais simples a mais rara, é um objetivo em si, é o foco principal da obra. A visão de mercado foi precisa, utilizando uma franquia histórica para preencher uma brecha gigantesca em um gênero consolidado. Ainda hoje, meses após o lançamento oficial e o decaimento do hype, os colecionadores continuam religiosamente em sua empreitada de conseguir todas as cartas de Pokémon. Logo, pensar que este jogo não tem seu valor é uma loucura, ele é um exemplo que as novidades podem nascer de espaços que estão sendo deixados pelos jogos que não se atentam para micro comunidades dentro de suas próprias base de jogadores.