The Precinct: uma excelente simulação e uma fraca história
- Luunyn

- Jun 27
- 4 min read
The Precinct é o mais novo jogo da Fallen Tree Games, desenvolvedora de jogos indie britânica responsável por American Fugitive e tantos outros jogos relevantes a nível mundial. A obra que ficou conhecida como “GTA Policial” ganhou relevância entres os jogadores desde seu anúncio nos anos anteriores, o jogo final apresenta um simulador policial divertido que pretende contar uma história simples com um plot pouco desenvolvido.
A obra propõe um simulador da atividade policial, onde o jogador deve assumir a posição de um policial recém formado de uma academia de polícia. Nick Cordell é o protagonista novato que teve seu pai morto por gangues, este sendo o antigo chefe da polícia. Como filho do antigo chefe, Cordell pretende ser um policial que honre o legado de seu pai, desta forma o jogador deverá aprender a ser um policial fazendo todas as atividades básicas até as mais avançadas.
Em relação a história, The Precinct não consegue fazer um trabalho consistente, a ideia de colocar Nick Cordell como novo recruta que precisa aprender não se sustenta nos diálogos e narrativa, apenas na jogabilidade. Assim, toda a construção da história é fraca e distante o suficiente para que situações mais complexas não fiquem claras, como o perigo e estruturação das diferentes gangues. Outro ponto importante é que a história em si é bastante previsível, uma cidade dominada pelas organizações criminosas, onde a polícia perdeu completamente o controle da situação, sendo difícil dar uma resposta satisfatória aos cidadãos. Neste ambiente, é praticamente óbvio que haveria alguma espécie de infiltração na polícia por parte das gangues, logo uma traição era esperado no plot. Ainda assim, o plot acaba por ser impactante trazendo uma figura que era considerada descartada pela maioria dos jogadores.
No que diz respeito a jogabilidade, a obra conta com um simulador sólido mas que não abre mão de seus elementos arcades que são de extrema importância para manter uma gameplay interessante e dinâmica. A ideia é simular o trabalho policial em todas suas vertentes, logo é proposto diferentes tipos de patrulha em formatos distintos, patrulhar em um carro a busca de crimes, multar os cidadãos que infringem os limites de velocidade, realizar multas de trânsito e realizar perseguições controlando um helicóptero são algumas das atividades da carreira policial que são emuladas na obra. Com o intuito de colocar o jogador na pele de um policial, todo o processo de abordagem e análise de crimes também é implementado, garantindo uma experiência completa, algo essencial para o jogo.

A dinâmica de gangues é o que realmente movimenta a narrativa adiante, desvendar os mistérios dos grupos criminosos aproxima Cordell da verdade por trás da morte de seu pai. Conseguir as provas que levam aos chefes das organizações criminosas não é realmente algo desafiador, o processo é realizado de forma automática ao cumprir o trabalho policial nos diferentes tipos de turnos possíveis. Os turnos fornecem a experiência necessária para liberar as novas funcionalidades, como novas viaturas, tipos de ronda e até mesmo novas armas. Esta abordagem é interessante na medida que interpreta o ganho de experiência do jogador enquanto policial como desenvolvimento pessoal na carreira, assim ganhar novos níveis disponibiliza novos e melhores recursos policiais ao policial que está se aprimorando, fora que este sistema integra o senso de progressão de forma natural, o que gera a vontade de conseguir o máximo de xp possível em cada turno, evitando o comportamento “GTA” que era esperado pelos jogadores.
No que diz respeito a resolução final do jogo que acontece a partir do plot, este ponto é um tanto problemático pela forma como foi desenvolvido e apresentado ao jogador. Não há realmente um cuidado para desenvolver a história para chegar a este momento, a própria ideia de busca por justiça por parte do Nick não é realmente explorada a fundo, é algo superficial que vai sendo processado naturalmente ao longo do jogo. Por isso, o peso do plot acaba sendo menor do que deveria ser, porém o confronto final é interessante e épico em suas devidas proporções, o que é digno para este “grand finale”.
Por conta dessa construção de história mal feita, a decisão final apresentada ao jogador parece um tanto confusa, o jogador não pensa em nenhum momento o que Nick Cordell faria, a decisão considera somente a predileção pessoal. O ponto não é qual é a decisão “correta”, se ele seguiria os passos do pai e protegeria seu legado ou não, o ponto é que qualquer uma das decisões não é corroborada pela história, Nick não é desenvolvido o suficiente ao longo da obra, a jogabilidade de simulação da vida policial não garante embasamento para o jogador definir a personalidade de Nick pela ações tomadas ao longo do jogo. A decisão final é completamente parcial e aleatória, ela diz respeito somente ao jogador e não a Cordell, o verdadeiro protagonista.
A obra ainda apresenta alguns problemas, principalmente no que diz respeito as mecânicas de tiro e afins. O jogador por vezes se depara com problemas em relação a movimentação e precisão nos tiros. Os problemas provavelmente aconteceriam, dado a posição da câmera isométrica que influencia no processo natural das três dimensões, tornando os limites do que está em cima e baixo mais tênues. Logo se movimentar em alguns ambientes onde há partes mais altas e baixas, ao tempo que acetar tiros em inimigos que estão em posições mais elevadas ou inferiores, se torna um grande problema. Não é incomum o jogador morrer em uma determinada parte do jogo somente por conta de seu tiro não ter acertado o inimigo em um momento crucial. A resolução deste problema não parece fácil e talvez o jogo ainda estivesse com maiores problemas em relação a isso, já que foi adiado duas vezes até seu lançamento oficial.
Concluindo, The Precinct é uma obra cativante e divertida, porém apresenta alguns problemas estruturais mecânicos e em relação a narrativa. A sensação do jogador é que o jogo começa com a ideia de um simulador da atividade policial em câmera isométrica e após isso os elementos de narrativa e jogabilidade foram adicionados. Não parece um projeto com uma espinha dorsal concisa, parece que havia uma ideia inicial e que os outros elementos foram adicionados a esmo, tornando algumas conexões um tanto estranhas. O jogo é bom, mas para chegar no excelente era preciso explorar mais os elementos básicos e realmente dar a devida importância a eles, caso isso acontecesse, o final seria impactante e contundente, atualmente o resultado é algo desconexo e confuso. Talvez uma grande atualização resolva estes problemas, mas para que já experienciou, acredito que este seja o resultado final.



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